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Batida Diferente
Documentário

Uma investigação sobre o impacto absoluto da forma que João Gilberto inventou de tocar samba e que mudou a história da música brasileira e influenciou a música mundial.
Rio de Janeiro, maio de 1958.
Elizeth Cardoso lança “Canção do Amor Demais”, disco dedicado às canções de uma nova dupla, Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, no qual se ouve pela primeira vez a batida do violão de João Gilberto em duas faixas. Mas Elizeth era uma cantora egressa da Era do Rádio, com todos os maneirismos vocais que eram comuns nesse período, completamente distante do que viria a ser a típica interpretação da Bossa Nova, suave e doce. Pouca gente então percebeu a batida diferente do baiano.
Foram necessários menos de três meses até que João Gilberto gravasse seu primeiro 78 rotações com “Chega de Saudade”, onde não só sua surpreendente maneira de tocar se fazia claramente presente mas também sua forma de cantar trazia uma grande novidade e que soaria como o marco inicial da Bossa Nova.
A sensação dos que ouviram “Chega de Saudade” com João Gilberto pela primeira vez foi como ver Charlton Heston descendo o monte Sinai com os Dez Mandamentos, como muito bem descreveu Ruy Castro. Todos lembram nitidamente essa primeira experiência. A gravação impactou fortemente qualquer músico ou cantor que viveu essa época, mesmo àqueles que ainda não tivessem optado por uma carreira musical ou mesmo viessem a enveredar por outros estilos musicais futuramente. E imediatamente impactou músicos ao redor do mundo que prontamente se renderam à novidade, ainda que demonstrassem dificuldade em entender aquela novidade musical tão original.
Os acordes passam a desempenhar dupla função: harmônica e percussiva. Estas duas funções existiam, mas não coexistiam - a partir da Bossa Nova é que elas se integram na mesma entidade-acorde. As letras das músicas passam a ser valorizadas não só pelas ideias mas também pela sua sonoridade. A palavra ganha assim um outro valor de representação. Perdem lugar, também, as imagens rebuscadas, o lirismo exagerado. Procura-se uma linguagem mais próxima do coloquial, um lirismo mais intimista e ingênuo. A concepção do canto na Bossa Nova é “cool”. Isto quer dizer cantar sem procura de efeitos ou arroubos melodramáticos, sem demonstrações de virtuosismo, sem malabarismos. A “voz cheia”, “empostada”, o “canto soluçado”, a “lágrima na voz”, são recursos rejeitados. Evitam-se os exageros, as hipérboles interpretativas, os efeitos dinâmicos. Os ouvintes acostumados ao estilo tradicional muitas vezes acusavam os novos cantores de “não terem voz”. Uma revolução que tem sua síntese em João Gilberto: seu violão, seu canto, seu repertório.
BATIDA DIFERENTE não é um filme sobre a Bossa Nova. É uma investigação sobre o impacto absoluto causado pela forma que João Gilberto inventou de tocar samba, que mudou a história da música brasileira e influenciou a música mundial. Nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Donato, Marcos Valle, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Moraes Moreira, Joyce, Wanda Sá, Edu Lobo, Pepeu Gomes, Tom Zé, Jards Macalé, Sergio Mendes, entre outros, todos músicos, poderão não só explicar como mostrar como aqueles novos acordes fizeram uma grandiosa transformação na música.